quinta-feira, dezembro 18, 2008

Introdução à Anatomia

Certamente você está se perguntando sobre a importância do estudo da anatomia para sua profissão e vida. Qualquer curso na área de saúde possivelmente lhe dará condições de crescer muito e conhecer melhor o corpo humano. Independentemente da área específica de atuação, você é que irá determinar o quanto deseja aprender e conhecer. Logicamente quanto mais souber, maiores serão as oportunidades de atuação profissional.
A anatomia é uma das ciências mais antigas da humanidade. Achados arqueológicos datam de mais de 3.000 anos a.C. Por este mesmo motivo durante muitos anos este estudo foi feito de uma forma unilateral, onde o professor falava e o aluno ouvia e tinha que aprender. Nem sempre isto dava certo.
Você já se perguntou há quanto tempo o cérebro do homem é igual ao seu? Cerca de 30.000 anos. Mas há 30.000 anos o homem fazia o que você faz hoje? Certamente ,não. O que mudou? A palavra chave para esta resposta é vivência! Ao vivenciar uma situação ou experiência você deve estar aprendendo algo.
A fala e a escrita nos permitiram transmitir de geração à geração o conhecimento adquirido com os estudos e principalmente com a vivência. Esta vivência configura o que muitos chamam de “experiência prática”. Esta prática é muitas vezes tão importante quanto o estudo teórico. Se associarmos isto ao tipo de linguagem binária que nosso cérebro utiliza, estaremos desvendando outra curiosidade. Estou me referindo ao prazer e ao sofrimento, o binômio que determina nossas interpretações neuronais. Observe que tudo que nos cerca de forma muito prazerosa ou algo associado ao sofrimento extremo, marca nossas mentes por mais tempo e com maior intensidade.
O estudo durante muito tempo foi associado ao sofrimento, principalmente o de anatomia. Imagine que na nomenclatura anatômica atual existem cerca de 5.000 nomes para serem aprendidos em 2 semestres.
Pegue isso, associe às aulas práticas, ao contato com peças naturais, ao cheiro do formol, as provas práticas com tempo cronometrado... um conjunto de ingredientes perfeitos para o estresse necessário ao “aprendizado do sofrimento”!
Desta forma acontece o estudo da anatomia até os dias atuais. Se você me perguntar, te direi que funciona! Afinal depois de virar a noite estudando, se ao simples toque do despertador você dá um pulo, se ao chegar no anatômico seu coração começa a bater mais rápido, se ao lembrar do professor sente arrepios... certamente você já estudou anatomia.
Minha pergunta é: será esta a melhor maneira de aprender?
Creio que não! Acho que esta é a melhor hora de abrir seus horizontes para o que realmente é importante na sua vida. Aprender é muito melhor e mais útil que estudar. Você já comparou o quanto você estudou e o que realmente aprendeu? Certamente você já estudou muito mais que aprendeu, não é? Parte deste resultado é porque você não parou para pensar no porquê de tudo isso. A hora é esta! Pare e pense:

- Por que estou aqui?
- O que quero no futuro?
- Qual meu caminho?
- O que quero ser?
- Para quê?
- Quem eu admiro?
- Quem eu gostaria de ser?

Só continue esta leitura quando tiver as respostas de pelo menos duas das perguntas anteriores.
Outra questão que quero levantar é se você é uma pessoa “real”. Para se tornar real você tem que se realizar e realizar coisas.
Você percebe que o Brasil é um país em constante crise? Desde que nasci ouço que a crise está aí. Você já pensou nisso? Você vê problema neste fato?
Os chineses possuem uma cultura milenar, e talvez por isso utilizem o mesmo símbolo que significa crise para designar oportunidade, exatamente igual. Acho que isto quer dizer que enquanto uns estão passando por uma crise, outros estão tendo uma oportunidade. A questão é onde você está, no grupo da crise ou o da oportunidade?
Isto também está relacionado com a motivação. Estar motivado é meio caminho andado para o sucesso. Como você se motiva? Certamente você já ouviu alguém mais velho dizer que as novas gerações estão cada vez mais desmotivadas, que ninguém quer nada! E de fato isto acontece muitas vezes. Eu chamo de “síndrome do Uruca”, aquela história de oh vida...oh tristeza..oh azar! Você não se ajuda, se torna acomodado e tudo dá errado sempre. Claro, você não está motivado. Mais que se motivar com dinheiro, recompensas ou prêmios, você tem que se motivar com as pequenas metas atingidas, estabelecer objetivos e metas curtas para poder atingi-las e amplia-las. Até que este processo se torne uma auto-motivação permanente. Quando isto acontecer ninguém o segura!
No estudo da anatomia, você terá que se motivar permanentemente. Não desistir nunca e entender que você quer aprender anatomia para sua vida. Encare a anatomia como o pré-requisito básico para entender o corpo e o homem.
Outra coisa interessante é o que chamei de teoria do “vai ou do fica”. Certa vez ao visitar minha avó, me queixava da rotina de vida exacerbada com muito trabalho e viajando para todos os lados. Preocupada com minha situação ela disse: - meu filho se você está tão estressado por que não vem morar comigo? Aqui você não precisaria trabalhar tanto, teria onde morar, não precisaria viajar tanto....FIQUE! Imediatamente argumentei: - Minha avó...obrigado, mas eu tenho minha profissão, minha carreira, preciso viajar! Então ela disse: - Então VÁ! Pensei e insisti que estava cansado e calmamente ela disse: - Então FIQUE!
Percebi neste momento o que ela queria dizer. Você já reparou que muitas pessoas reclamam de tudo. Estão sempre focando em uma ótica pessimista os fatos, nunca observam o lado positivo. Aumentam o sofrimento e literalmente se martirizam promovendo seus afazeres. Trata-se da “Teoria do VAI ou do FICA” como batizei naquele momento. Muitas vezes “vamos” querendo ficar, outras “ficamos” querendo ir, este é o princípio do fracasso. Agora mesmo você deve saber que este é seu lugar, acreditar que você está fazendo o que gostaria de fazer e fazê-lo da melhor maneira possível.
Nesta fase de estudos muitos deixam suas casas para poder estudar, rompem com uma rotina de muitos anos, vão para uma outra cidade, passam a morar com amigos em república dividindo as despesas. A saudade aperta, ninguém disse que era fácil. Muitas vezes queremos desistir, jogar tudo para o alto e voltar para casa. Mas se você desistir agora nunca concretizará nada em sua vida, estes desafios fazem parte de nossas vidas. Uma dica: - a faculdade é uma extensão de sua família, tenha nos professores seus aliados, amigos e orientadores. Durante seu curso de graduação você terá a oportunidade de fazer novas e verdadeiras amizades. Aproveite para aprender as lições que a vida lhe oferecerá.
Outra coisa que você deverá aprender é que seu conhecimento é a única coisa que você realmente tem. Dinheiro, amigos, carros e qualquer outra coisa são momentaneamente seus. Seu conhecimento poderá abrir as portas para o sucesso e as realizações materiais, mas não se iluda e não deixe a soberba afastá-lo do caminho do conhecimento, pois ele nunca acaba.Não queira aprender o mínimo para passar de ano, quanto mais melhor! Seja educado e culto, isto sempre o ajudará. Costumo brincar com meus alunos dizendo que o estudo da anatomia ajuda até os “encalhados”, me referindo aos que estão sozinhos e não conseguem namorar. O mundo está carente de cabeças pensantes e cheio de cabeças com “botóx”. Para enriquecer sua cultura e torná-lo mais capaz vamos entender um pouco da história da anatomia.

HISTÓRIA DA ANATOMIA HUMANA

A História da Anatomia data oficialmente de 500 a.C. onde, no sul da Itália, Alcméon de Crotona realizou dissecações em animais.

No século III a.C. o estudo da Anatomia Humana avançou consideravelmente na Alexandria. Sendo que os primeiros a realizarem dissecação humana de modo sistemático foram Herófilo e Erasístrato.

Por motivos éticos e religiosos em 150 a.C. a dissecação humana foi proibida.

O uso da anatomia comparada se deu com Galeno no século II d.C., ?? estas aplicações quase sempre estavam corretas. Ao criar a doutrina da “causa final” ele requeria que todos os achados confirmassem a fisiologia tal e qual ele a compreendia, num sistema teológico.

A retomada ao estudo da anatomia humana aconteceu mais por razões práticas que intelectuais a exemplo das Guerras, em que, se fez necessário repatriar os corpos dos mortos em combate. Assim, utilizaram o embalsamento para trajetos curtos e cocção de ossos (cozinhar) para o translado de grandes distâncias. Porém, o desejo de saber a causa da morte por razões essencialmente médico-legais; de averiguar o que havia matado uma pessoa importante ou elucidar a natureza da peste ou outra enfermidade infecciosa, foi o ponto culminante para a dissecação humana.

A anatomia era uma disciplina auxiliar na cirurgia, que na época era relativamente grosseira e reunia sobre todo conhecer os pontos apropriados para a sangria. As figuras não-realistas e esquemáticas foram suficientes no tempo em que, a anatomia ostentou qualidade oposta à prática.

O final da tradição manuscrita consistente em copiar os antigos desenhos e a conversão as naturezas em modelo primário, desenvolveu a técnica ilustrativa no começo do século XVI associado a lenta instauração de melhores técnicas que influíram no desenvolvimento da ilustração científica. Assim, as primeiras ilustrações anatômicas impressas baseiam-se na tradição manuscrita medieval. Após a Peste Negra, as representações dos esqueletos e da anatomia humana dos artistas que as desenharam são melhores que dos anatomistas.

Leonardo da Vinci foi o primeiro artista do século XV a considerar a anatomia algo mais que um ponto de vista pictórico. Leonardo representou com beleza artística o esqueleto, os músculos, os nervos e os vasos, atingindo uma precisão maior que Vesalio. Foi também um dos primeiros a assinalar algumas estruturas anatômicas conhecidas. Com exceção de Leonardo, os artistas do Renascimento eram anatomistas só de maneira secundária.

Com o uso da perspectiva e do sombreado para sugerir profundidade e tridimensionalidade, importantes contribuições na representação realista da forma humana foram feitas. Os verdadeiros avanços científicos exigiam a colaboração de anatomistas profissionais e de artistas. A primeira ilustração anatômica tomada do natural foi concebida por Jacob Berengario de Capri. Por este motivo, todas as ilustrações encontradas neste livro, foram feitas por desenhistas que já estudaram anatomia.

Vesálio comprovou que cada um dos sistemas principais (ossos, músculos, vasos sanguíneos, nervos e órgãos internos), não eram iguais em todos os indivíduos. Relatou certa surpresa ao encontrar inúmeros erros nas obras de Galeno, mesmo sendo um seguidor da fisiologia galênica. Mesmo diante da questão de quem é mais importante, se o artista ou o anatomista; havia-se encontrado uma solução na busca de uma expressão pictórica adequada aos fenômenos naturais.

No século XVII notáveis descobertas no campo da anatomia e da fisiologia humana foram feitas, assim foi possível resolver erros da fisiologia galênica, por exemplo.

As estruturas macroscópicas se mantêm, a evolução se dá em relação ao entendimento microscópico.

NOMENCLATURA, PLANOS DE POSICIONAMENTO E DELIMITAÇÃO DO CORPO HUMANO

A necessidade da expansão do conhecimento, da pesquisa e da interação entre diferentes anatomistas de todo o mundo estimulou a criação da Nômina Anatômica, uma normatização que regulamentou na década de 60 os termos oficiais utilizados em anatomia. Trata-se de uma linguagem técnica e oficial que deve ser utilizada no estudo da anatomia, no preenchimento de receituários, papeletas e prontuários médicos.
Até antes da década de 60, não havia uma padronização dos nomes. A partir de então, escolheu-se o latim como língua oficial, termos com apenas um nome e ainda caminha-se para a extinção de epônimos ( não seria bom explicar o termo?); assim criou-se a nomenclatura que usamos até hoje e que é padrão no mundo todo.
Antes disso, existiam cerca de 50.000 nomes para designar cerca de 5.000 estruturas. Esta nomenclatura permitiu um avanço enorme na interação científica. Os critérios utilizados para elaborar esta nomenclatura foram:
- Termos grifados em latim;
- Os nomes deveriam ter algum significado ou sentido;
- As estruturas deveriam ter somente um nome;
- Os epônimos foram abolidos.
Os corpos humanos ainda são as melhores formas para o estudo da anatomia, porém sua obtenção é difícil e controvertida.
O uso do formol ainda é bastante comum na dissecação e conservaçao dos corpos em virtude de seu baixo custo, porém o grau de toxidade é bastante elevado e obriga a utilização de máscaras e luvas. Existem técnicas como a plastinação que utiliza um polímero de silicone, que conserva a coloração e a textura da carne muito próxima da natural sem o desconforto do cheiro e da toxidade do formol, porém seu custo é elevadíssimo. No Japão, China e Rússia encontramos os principais centros de anatomia que utilizam estas técnicas. Existe uma tendência nos países desenvolvidos pela substituição das peças naturais por peças sintéticas, que cada vez mais aproximam-se das naturais, oferecendo uma didática melhor muitas vezes. É importante que o estudante de anatomia utilize uma boa bibliografia para facilitar o processo de aprendizado e fixação dos nomes.
Além desta nomenclatura, o estudo da anatomia precisa de um referencial que permita identificar e posicionar as estruturas. Para tanto foi criada a “posição anatômica”.


POSIÇÃO ANATÔMICA:

um conceito imaginário no qual o indivíduo está em posição ortostática (“de pé”); com os membros superiores e inferiores estendidos, as palmas da mão voltada à frente, os pés aduzidos (juntos) e o olhar no horizonte. Tal convenção foi criada pelos anatomistas para servir de referência e permitir uma padronização na identificação e no posicionamento das estruturas anatômicas.

Somente esta convenção (posição anatômica), não é suficiente para posicionar e localizar as estruturas do corpo humano. Precisamos de mais referenciais. Por isso, também foram criados os chamados planos de posição e delimitação do corpo humano, que funcionam como linhas imaginárias de referencia:

1º) Plano-mediano:

Linha imaginária que divide o corpo humano em lado direito e esquerdo.
* em relação a este plano utiliza-se os termos lateral e medial, em referência a localização da estrutura em relação ao plano.
* Qualquer plano paralelo ao mediano é chamado de sagital, e qualquer paralelo ao horizontal é chamado de transverso.

Exemplos:

- O olho é medial à orelha e é lateral ao nariz.
- A clavícula tem uma extremidade medial e uma lateral.
- Existe ainda o termo intermédio que significa estar entre duas outras estruturas. O 3º dedo é intermédio assim como o coração (que está entre dois pulmões).

2º) Plano-horizontal:

Linha imaginária que divide o corpo humano em parte superior e inferior.
* em relação a este plano utiliza-se os termos superior e inferior (ou cranial e caudal).

Exemplo: a cabeça do fêmur fica voltada para a parte superior e medial.

3º) Plano-coronal ou frontal:

Linha imaginária que divide o corpo humano em parte anterior e posterior.

* em relação a este plano utiliza -se os termos anterior e posterior (ou ventral e dorsal).


* Há termos freqüentes como: Proximal e Distal, utilizados em relação a raiz do membro (cintura escapular ou pélvica).


- A raiz do membro superior é o ombro e do membro inferior é o quadril.

Proximal e Distal è termos utilizados em relação à raiz do membro.